A morte do cantor sertanejo, a seleção brasileira e o futuro do país.

Author: Jah Bless /



Antes que comecem a achar que vou tomar partido de um ou de outro nas inúmeras polêmicas que pipocam nas redes sociais, jornais, blogs e afins, acerca da notoriedade ou do estrelato meteórico de um quase anônimo catapultado pela dor de uma perda prematura; vou logo avisando: não vou participar dessa celeuma.
Também não tô nem aí se “Dunga”, ou qualquer dos outros seis anões (lembram daqueles do “orçamento”?) , o técnico da seleção de “nanicos” , pequenininhos em seu futebol, estilosos em seus penteados, escalou certo ou errado “os nossos – lá deles! – guerreiros sulamericanos”. Não perdi meu tempo diante de uma tv para ver um jogo de medíocres, “batendo cabeças”, se desentendendo entre si e dando o péssimo exemplo da prepotência e arrogância que resultou, ao final, em cenas grotescas de violência e conduta anti-esportiva.
Não tô nem ai !!!
Na verdade, essa postagem é exatamente para isso,  questionar o quão é importante dar tanta importância a certas coisas que, no todo e para o todo, não seriam tão relevantes se a gente voltasse nosso pensamento e somasse nossas forças para transformar o nosso futuro, que não se nos apresenta promissor e sim, catastrófico e ferrado.
Que se derramem lágrimas e até se entristeçam aqueles que conheciam o trabalho e admiravam o cantor sertanejo e o seu “legado para a cultura de massa popular brasileira” – respeito mas  não engrosso o côro dos chorosos e me dou o direito de dizer que não o conhecia ; senti pela perda de uma vida mas que não reconheço nenhum legado do mesmo; mas será que é preciso ocupar tanto tempo dos noticiários com imagens de fãs desesperados, teorias conspiratórias sobre o porque do “acidente” e a quantidade de pontos de solda na roda? Não ignoremos a dor da perda, ela existe e deve ser respeitada; inclusive, deixando que aqueles que estão verdadeiramente enlutados e tem razão para estar, possam recolher-se em seu canto e dedicar seu tempo a ela.
Mas certamente não faltam assuntos mais relevantes e até mais “dolorosos”, de dor coletiva. No mesmo dia, ao longo de toda a semana, a cada minuto em que os “sensacionalistas” voltaram sua atenção mórbida e especulativa, quase que exclusiva, ao passamento do músico, pessoas estavam morrendo vítimas da violência , do descaso dos governos, da intolerância religiosa, de atos terroristas e assassinos em massa; pessoas morreram de sede e fome, na Africa, na Europa, no Brasil, no mundo!!!
No mesmo momento em que fanáticos torcedores do nosso futebol falido e vilipendiado pela corrupção, roíam unhas, gritavam histericamente e até choravam e sofriam “piripaques” diante da desclassificação “prematura” da “seleção (!? Rsss)”;  a inflação voltava com toda a força corroendo o poder de compra dos salários, elevando preços; a energia elétrica aumentava mais uma vez e a “bandeira vermelha” tremulava avisando que “a coisa ia ficar ainda mais preta”; as chuvas deslizavam barrancos, destruindo barracos e soterrando vidas e sonhos; novas provas e denúncias surgiram nos autos daquele que se afigura o maior escândalo de corrupção envolvendo empresas, empreiteiras, empresários e políticos de todos os escalões.
Enfim, morrer é da natureza humana e a única certeza. Cazuza morreu, Renato Russo e Cássia Eller também; assim como Chico Anísio e Dominguinhos, a partida também foi inesperada e não querida e porque não dizer, prematura,  pois ainda muito poderiam fazer pela cultura e conscientização do povo brasileiro. Cada um com seu valor, com sua colaboração, com seu legado. Guardemos, com cautela e serenidade, as devidas proporções. “Pra bom entendedor...”
Por outro lado, meus heróis não foram escalados, minha seleção não é da bola, não ganha em dólar nem vive de ostentação. Meus heróis ganham salário de fome, trabalham como escravos para construir um novo país; eles estão em salas de aula, varrendo ruas, erguendo prédios, pagando impostos, engrossando as filas de hospitais e mendigando por justiça. Mas isso a TV não quer mostrar, não dá Ibope e tumultua a consciência pacífica e acomodada do “fã-torcedor”. 
Nossos sentimentos aos enlutados e nosso aplauso para a SELEÇÃO  CHILENA (com maiúsculas) pelo título inédito conquistado. Ah, em tempo: obrigado seleção brasileira (com minúsculas) por ter nos poupados de risíveis, constrangedores e sofríveis exibições minimalistas de um rascunho que insistem  jocosamente chamar de futebol.
Salve o povo brasileiro. Salve a cultura nacional. Se é pra esperar um futuro melhor, que seja sentado, senão cansa. Ah,  e com a tv desligada. 

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